Hoje eu vou contar uma historinha.
Há alguns anos, quando eu estava começando a fazer macumba1, num dos cursos d’O Zigurate2, me deparei com um ritual que seria o início de uma longa jornada. O ritual é conhecido como Bornless Ritual ou Headless Ritual, mas também é chamado de Estela de Jeu, o hieroglifista e PGM V. 96-172. É um ritual de exorcismo encontrado nos Papiros Mágicos Gregos. Não vou entrar em tantos detalhes sobre o ritual pois um número grande de pessoas já escreveram sobre ele e de forma muito mais abrangente do que eu pretendo aqui3.
Como eu disse, é um ritual de exorcismo, porém por algum motivo ele foi popularizado pelo Crowley e pela galera da Thelema como um ritual de aproximação com o Sagrado Anjo Guardião ou seu AgathoDaimon4. O Sam Block fala de formas de usar esse ritual com esse propósito no texto dele e isso que me encantou num primeiro momento. Por algum motivo eu fiquei completamente hipnotizado pela ideia do Agathodaimon como o guia espiritual principal e pensei que eu não poderia seguir no caminho espiritual sem entrar em contato com esse guia.
A partir disso começo a realizar esse ritual todos os dias5. No começo eu não sei exatamente o que eu esperava. Vozes na cabeça? Um anjo com fogo no lugar de cabeça com coisas escritas aparecer na minha frente? Morrer e nascer de novo? Talvez. Sinto que é muito fácil a gente ter certa ingenuidade quando ta começando a fazer magia. Espera um show pirotécnico de espíritos na sala de casa. Não foi bem assim comigo. Não tenho clarividência pra isso.
Esse ritual virou meu feijão com arroz. Por ser apenas uma leve alteração em um ritual de exorcismo ele é prático pra muitas situações. Desde uma limpeza mais pesada até pra a preparação pra chamar outros espíritos. Entretanto, eu ainda passei muito tempo esperando algo em torno do meu Agathodaimon. Que esse espírito se manifestasse de alguma forma. Isso não aconteceu. Mas algo aconteceu sim.

De uns tempos pra ca eu me percebo mais intuitivo. Não digo que é uma voz na minha cabeça me mandando o que fazer, mas tem caminhos que parecem brilhar — e uso brilhar figurativamente — com mais facilidade que outros. Tem sido interessante e proveitoso não ignorar esses pequenos sinais.
Eu creio que tem algo aí sim. Pra mim, que sempre se achou uma porta pra sentir energias e sempre viu as coisas de forma um pouco mais pragmática, é uma experiência intrigante. Se aproximar de espíritos num geral parece ser não só não-linear, como também muito sutil. Um trabalho lento e constante. É abrir o próprio coração em estado de fé pra deixar que seus guias te acompanhem e sejam parte da sua vida.
Eu não recomendo testar especificamente o Headless Ritual. Pode ser que não seja muito sua praia. Mas recomendo seguir seus rituais com fé. Seja um trabalho com ancestrais, deuses, anjos, santos, o caminho de aproximação pode parecer árduo e difícil, mas é recompensador.
Uso aqui macumba como um termo mais geral que engloba trabalho com espíritos e magia como um todo além de macumba propriamente dita.
Que inclusive está com o curso de Desenvolvimento Espiritual e Poder Pessoal aberto.
Particularmente eu prefiro o termo Agathodaimon porque é uma entidade mais ampla e tira o peso e influência cristã que Crowley certamente tinha.
Não diria que nesses anos foi exatamente todos os dias, tive minhas idas e vindas com esse ritual. Algumas crises que me fizeram trocar absolutamente tudo que envolvia minha prática diária, mas ele em especificamente sempre voltava a fazer parte do escopo diário.